segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Sistema energético do País é frágil

Uso de toda capacidade de Itaipu às 22 horas é criticada; 'redes inteligentes' seriam solução.
A extensão do blecaute expôs a fragilidade de um sistema de abastecimento quase integralmente dependente da geração hidrelétrica. Pelos dados do ONS, esta semana 95,16% da energia consumida foi gerada por hidrelétricas - Itaipu respondeu pela parcela de 78,18% desse total. A opção brasileira para o fornecimento elétrico divide especialistas.
"Eram 22 horas e Itaipu estava gerando tudo o que podia. Botar toda Itaipu gerando pode ser correto do ponto de vista energético, já que não tem reservatório e não é bom desperdiçar água, mas é arriscado", diz o físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia da Coppe e ex-presidente da Eletrobrás. Ele defende o uso de "redes inteligentes", que evitem o efeito dominó que ocorreu anteontem, com um número maior de pontos controlados. É o que o mercado chama de ilhamento. "Isso foi estudado, discutido, mas não implementado."
O apagão foi provocado por uma sobrecarga no sistema, pelo aumento de demanda residencial, na opinião do especialista em infraestrutura Adriano Pires, que é mais contundente nas críticas à condução da política energética. "Está havendo barbeiragem de operação. Às 22 horas, não há por que manter as 20 turbinas de Itaipu ligadas. É populismo manter modicidade tarifária, excluindo as usinas térmicas, que deviam estar também na base do sistema", diz ele, creditando ao aumento no uso de aparelhos, como ar-condicionado, a sobrecarga. "O governo estimulou muito o consumo da linha branca. A linha de transmissão tem um limite de capacidade e não aguentou."
Luiz Fernando Vianna, presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine), discorda, porém, dos defensores da ideia de que as termelétricas deveriam estar ligadas para garantir a segurança do fornecimento de energia. "Isso tem um custo alto e nem todas as termelétricas são capazes de operar sem ser na utilização da capacidade máxima; além disso, está sobrando água, o que também representa um risco."
INTEMPÉRIES
A divisão dos especialistas é bastante evidente. Se por um lado há quem acredite que em 2009 o nível de umidade do ar pode provocar constantes tempestades de maior força, que devem acarretar em novos incidentes semelhantes, há quem garanta que o sistema estava completamente preparado para intempéries climáticas do porte verificado. "O sistema está sendo constantemente testado para esse tipo de risco. É como se um paciente passasse sem problemas por completos check-ups e na saída do consultório médico tivesse um enfarte ao atravessar a rua. Houve erro nos exames ou algo que não poderia ser previsto?", indagou o especialista Mário Veiga, da PSR Consultoria. "O sistema interligado está preparado para ser reconectado após 45 minutos.Por que levaram tanto tempo?"
Já o professor Nivalde Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da Universidade Federal do Rio (UFRJ), vê como uma eventualidade, um "infortúnio de virtudes", o apagão. "A interligação do sistema traz como bônus a redução do preço de energia, mas acarreta risco mais elevado", disse. Para ele, o sistema está vulnerável a intempéries climáticas como a ocorrida e não seria possível criar uma alternativa. "Só se fosse construído um linhão paralelo, mas o custo seria tão alto que a sociedade não concordaria em pagar a conta", disse.

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