sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ministra agora tentará mostrar que não há crise

Planalto quer destacar experiência de Dilma no setor.
Depois de montar uma operação para blindar a ministra Dilma Rousseff logo após o apagão, o governo quer agora que sua candidata ao Palácio do Planalto assuma aos poucos a linha de frente nas respostas às críticas da oposição. A estratégia, acertada pelo Planalto e pelo núcleo encarregado de montar a campanha da chefe da Casa Civil, é aproveitar a experiência dela na área para tentar desconstruir a tese de que o Brasil estaria à beira de uma nova crise energética.
Ex-ministra de Minas e Energia, Dilma evitou, até ontem, situações que a obrigassem a tratar do blecaute. O governo achou melhor tirá-la da linha de tiro num primeiro momento, mas deve reverter essa situação assim que estiverem mais claras as causas da falha no fornecimento.
Dilma não deve tomar a iniciativa de abordar o assunto, mas não vai fugir do debate, garantem aliados. A ideia é aproveitar agendas públicas para rebater os ataques do PSDB, mais precisamente as entrevistas que conceder à imprensa, como ontem.
Em 11/11/09, dia seguinte ao blecaute, Dilma reuniu-se com membros do governo e dirigentes petistas para definir como reagiria ao noticiário. Ela concordou com a proposta de submergir por alguns dias, para aguardar os esclarecimentos sobre os motivos do apagão e a análise sobre as condições em que se encontra o sistema de energia do País. Ela passou o resto do dia em casa, estudando as condições da rede e recebendo informações sobre os acontecimentos minuto a minuto.
Após o blecaute, o Planalto achou mais prudente deixar que outros membros do governo filtrassem os primeiros ataques da oposição. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e o diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional, Jorge Samek, foram encarregados de prestar os esclarecimentos na área técnica. Para as reações políticas, entraram em cena o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), e os líderes do PT e do governo na Câmara e no Senado.
DISCURSO
A notícia do blecaute chegou justamente quando Dilma começava a colocar em prática um plano para endurecer o discurso contra os tucanos. A ideia, nesse caso, era responder ao que o governo entendeu como uma ofensiva do PSDB contra a agenda de pré-campanha que a chefe da Casa Civil iniciou há algumas semanas. O estopim da mudança no discurso de Dilma foi o artigo publicado no Estado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no qual disse haver um "autoritarismo popular" e um "subperonismo" no governo Lula.
O novo tom das falas da ministra apareceu já na noite de sexta-feira da semana passada, quando ela acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na 12ª edição do Congresso do PC do B. Surpreendendo a plateia de militantes da sigla aliada, a ministra abriu o discurso com duras críticas às "forças do passado", que descreveu como "patéticas" e "atrasadas".
No dia seguinte, com prefeitos do PT, Dilma manteve a mesma linha. Disse que existe uma "oposição quase midiática" no País. Na terça-feira, ela retomou as críticas, no Rio.
''Não estamos livres de blecautes'', diz Dilma, em 1ª aparição após apagão
Ministra-chefe da Casa Civil afirma que assunto 'está encerrado' e afasta possibilidade de retomar racionamento
Depois de submergir por mais de 40 horas, após o apagão da terça-feira à noite, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, falou ontem pela primeira vez do problema e admitiu que o País pode voltar a ter apagões. "Nós não estamos livres de blecautes", declarou a ministra.
Em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro no dia 29 de outubro, Dilma afirmou: "Nós também temos uma outra certeza, que não vai ter apagão. É que nós hoje voltamos a fazer planejamento. Então, nós olhamos, qual é a necessidade que o Brasil tem de energia nos próximos cinco anos? Nós, ao olharmos isso, providenciamos as usinas que são necessárias para o Brasil."
A ministra e pré-candidata ao Planalto fez questão de diferenciar o que houve terça-feira com o que ocorreu na gestão Fernando Henrique Cardoso, negando que o governo tenha prometido que não ocorreriam mais blecautes. "O que nós prometemos é que não terá neste País mais racionamento. Racionamento é barbeiragem", atacou Dilma. "Eu não vou entrar nesse tipo de polêmica, que não me interessa. Não é por aí a discussão. Não se pode politizar uma coisa tão séria para o País. Respondi a vocês tecnicamente".
Antes de avisar que, para ela, o assunto "está encerrado", a ministra insistiu que "não teve" apagão e afirmou que a imprensa estava "confundindo" duas coisas. Para a ministra, "uma coisa é blecaute" e emendou que "ninguém pode prometer que não vai ter interrupções nesse sistema". Segundo ela, o que ocorreu não significa uma fragilidade do sistema e que, para ele ser 100% seguro, seria "muito mais caro" e "nós teríamos de pagar uma conta de luz bastante mais gorda do que nós pagamos". "Porque nenhum país do mundo tem esse nível de redundância." Em seguida, afirmou que o Brasil trabalha com 95% de segurança.
A ministra "lamentou" os transtornos causados pelo apagão aos consumidores, reconhecendo que o fato foi "muito desagradável". Mas afirmou que não se pode "tentar apresentar ao País uma fragilidade que não existe". Depois de insistir que "o Brasil de hoje é diferente do Brasil que sofreu oito meses de racionamento" porque "nós temos energia sobrando e, naquela época, tinha racionamento", a ministra comentou que não era possível evitar as intempéries.
"Se tem uma coisa que nós humanos não controlamos são as chuvas, raios e ventos", declarou, ao salientar que a matriz energética do Brasil tem um diferencial positivo em relação à de países desenvolvidos. Lembrou que enquanto grande parte da Europa e os EUA usam termelétricas movidas a combustíveis fósseis, no Brasil a matriz energética é formada na maior parte por hidrelétricas. Dilma disse ainda que a Aneel vai investigar o que aconteceu.
Oposição quer levar Dilma à Câmara
O apagão alimentou os discursos da oposição no Congresso e levou seus líderes a convocar os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e de Minas e Energia, Edison Lobão, a depor em três comissões, duas da Câmara e uma do Senado. A oposição tratou sempre a ministra Dilma como candidata oficial do presidente Lula à sucessão em 2010 e lembrou uma entrevista que ela concedeu ao programa Bom Dia Ministro, no dia 29.
As comissões de Fiscalização e Controle e de Minas e Energia, da Câmara, farão audiência pública conjunta para ouvir as explicações de Lobão. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (PSDB-AM), fez o convite para Lobão e Dilma explicarem o apagão na Comissão de Infraestrutura da Casa. "Quero que venha dar explicações a ministra que disse que apagão nunca mais aconteceria. No governo passado, o que houve foi um racionamento. Desta vez, foi apagão", disse o senador tucano. Em 1999, ainda no governo Fernando Henrique, o Brasil sofreu um outro grande blecaute, que atingiu dez Estados e o DF.
O líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal (SP), ironizou comentários que Dilma teria feito recentemente. Segundo Aníbal, "dias atrás" ela teria dito: "Apagão no País? Nem morta". O tucano criticou as justificativas apresentadas pelo governo. "Não foram questões climáticas, tem alguma coisa a mais." Na Comissão de Fiscalização da Câmara, o requerimento de convite a Lobão é do deputado do PSDB Vanderley Macris (SP), que informou que o ministro comunicou à comissão que comparecerá - mas as datas não foram definidas.
Na Comissão de Minas e Energia, o convite ao ministro é de autoria do líder do PPS, deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP). Para ele, a falha no fornecimento de energia revela uma "fragilidade" do sistema elétrico. Segundo Macris, Lobão telefonou à presidência da Comissão de Fiscalização quando soube da aprovação do requerimento e se colocou à disposição dos deputados.
Jardim afirmou que o governo precisa aumentar os investimentos no setor para evitar escassez. O deputado lembrou que o governo tem acionado um número cada vez maior de termelétricas e afirmou que o uso da energia dessas fontes, mais cara e mais poluente, é resultado de falta de planejamento.
ENSINAMENTO
A senadora e pré-candidata do PV à presidência, Marina Silva, afirmou, após conversas com especialistas para avaliar as causas do blecaute, que o caso serve como "ensinamento" para a questão de investimentos na área. Para ela, o setor elétrico merece maior planejamento e cuidado técnico. "Precisamos considerar que isso causa um prejuízo social, moral, econômico e político", alertou.

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