quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Depois do apagão, Brasil deve entrar em fase de energia elétrica mais cara

Até 2013, 62% da expansão será com termoelétricas, que custam mais e causam problema ao meio ambiente.
Uma parcela de 62% do crescimento da energia elétrica no Brasil previsto de 2009 até 2013 será com usinas térmicas, o que deve encarecer a energia e causar mais problemas de meio ambiente. Marcio Prado, analista do setor no Santander, preocupa-se com a excessiva dependência das usinas térmicas no Nordeste, movidas a óleo, que estão programadas para responder por 29,5% do crescimento da oferta de 2009 até 2013. Elas vão encarecer o preço da energia, são poluentes e têm enfrentado problemas na implementação dos contratos.
Os problemas do setor elétrico brasileiro entraram em pauta na semana passada, com o apagão da terça-feira, que atingiu 18 Estados. Para Prado, do ponto de vista da geração, parece não haver risco de faltar eletricidade no Brasil até 2013, já que a freada no PIB em 2009 criou folga no sistema. Ele nota, porém, que o ideal era que o aumento da oferta não fosse tão baseado nas térmicas, especialmente nas do Nordeste, a óleo.
"Existe uma incerteza sobre se, de fato, todas essas térmicas vão entrar em funcionamento nos prazos previstos e, ainda que entrem, elas têm custo caro." O analista não cita nomes, mas dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que há atrasos em 19 usinas termoelétricas com energia vendida para 2010 e 2011 em leilões do governo.
Aquele cenário de aumento da oferta até 2013 é uma projeção recente do próprio governo, realizada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), e inclui também a previsão sobre a evolução da demanda. Segundo as projeções, a oferta de energia no País deve crescer de 54.877 megawatts (MW) médios em 2009 para 68.712 MW médios em 2013, e a demanda de 51.845 MW médios para 64.664, no mesmo período.
O problema, porém, é que a diferença entre a oferta e a demanda previstas para 2013, de 4.048 MW médios, é quase idêntica ao aumento previsto entre 2010 e 2013 da energia das termoelétricas a óleo do Nordeste, de 4.086 MW médios. Na verdade, o cronograma da oferta de energia dessas usinas parte de zero em 2008 para 4.770 MW médios em 2013. Nesse ano, portanto, sem aquelas usinas, o sistema operaria em condições apertadíssimas e, em caso de uma hidrologia ruim (poucas chuvas), haveria risco de apagões.
Essas previsões pressupõem um crescimento do PIB de 5% em 2010, e de 4% ao ano até 2013. Num cenário alternativo, estimado por Prado, no qual o PIB tenha uma vigorosa expansão média de 5,5% naquele período, mesmo com a implantação completa e nos prazos previstos das usinas térmicas no Nordeste, o sistema trabalharia sem nenhuma folga em 2013 - na verdade, haveria um pequeno déficit de 186 MW médios. Com um crescimento médio do PIB de 5%, mesmo com a implantação sem atraso das usinas termelétricas do Nordeste, a sobra de oferta em 2013 cairia para 1.516 MW, menos da metade da folga média de 2009 a 2013, prevista no cenário oficial do governo.
Prado diz que o governo parece estar atento ao risco da dependência excessiva das usinas térmicas a óleo. Assim uma das ideias por trás do leilão de energia eólica em dezembro é justamente a de garantir a substituição parcial daquelas usinas, caso alguns projetos não venham a ser concretizados.
Ele nota que as usinas eólicas demoram aproximadamente um ano e meio para serem construídas. Dessa forma, elas teriam condições de já estar prontas em 2012, quando a dependência das usinas a óleo se torna crítica. Até 2011, a sobra de energia projetada é bem maior do que a oferta prevista destas usinas. Em 2012, porém, a oferta projetada das térmicas do Nordeste, de 2.976 MW médios, é maior do que folga prevista (diferença entre oferta total e demanda total), de 2.976 MW médios.
"Se a contratação das eólicas no leilão de dezembro for muito fraca, e se houver uma onda de crescimento forte e sustentado da economia, a situação começará a preocupar", diz Prado.

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