sábado, 14 de novembro de 2009

Chance de queda simultânea de linhas é baixa

Mecanismo de isolamento de problemas não funcionou no Sudeste e no Centro-Oeste do País.
Como e por que ocorreu o desligamento simultâneo das cinco linhas de transmissão que escoam a energia de Itaipu é a grande dúvida sobre o apagão que aconteceu entre a noite do dia 10 e a madrugada do dia 11 em 18 Estados. O evento é classificado no setor elétrico como de baixíssima probabilidade de ocorrer, uma vez que a configuração em diversas linhas tem justamente o objetivo de manter um "seguro" para o caso de acidente em uma delas.
Uma vez consumada a queda simultânea das linhas, diz um experiente executivo do setor, é quase impossível evitar efeitos como o ocorrido na terça-feira. "Itaipu tem um peso muito grande na geração de energia no País. Seria muito difícil manter o equilíbrio da rede após sua saída do sistema", explica a fonte, com passagem em cargo-chave do setor elétrico, que preferiu não ser identificada.
Mesmo com a queda de uma linha por qualquer razão, o sistema deveria ter protegido as outras, mantendo o fluxo de energia para a Região Sudeste. Isso porque, em caso de linhas de transmissão consideradas fundamentais, o Sistema Interligado Nacional (SIN) trabalha, no mínimo, com o conceito de "n-1", segundo o qual há uma linha reserva para manter o suprimento em caso de queda de outra linha. "(A queda das linhas) é um evento inusitado, porque a probabilidade de perda das cinco linhas ao mesmo tempo é muito baixa, ainda mais porque não houve perda física dos equipamentos de transmissão", explicou o consultor Eduardo Bernini, que durante anos presidiu a Eletropaulo.
Ele explicou que, após o apagão de 1999, provocado pela queda de um suposto raio em uma subestação em Bauru (SP) da Cesp, os processos de operação da malha de transmissão foram redesenhados e o governo implementou uma série de mudanças para recuperar as redes rapidamente e isolar os problemas nos locais de origem. "Como o sistema é muito grande, os engenheiros usaram a criatividade para buscar maior flexibilidade no abastecimento do País. Algo não saiu como o previsto. Os sistemas de isolamento funcionaram no Sul, no Nordeste e no Norte, mas não funcionaram no Sudeste e no Centro-Oeste", completou o executivo.
Bernini disse que o planejamento de operação da malha de transmissão no Brasil tem por base a probabilidade. Nesse contexto, a queda das cinco linhas de Itaipu era pouco provável. "A dificuldade que se tem para compreender é que o serviço de energia elétrica é "interruptível", porque um sistema infalível custaria uma barbaridade aos consumidores", disse. A confiabilidade no sistema implica custos a serem pagos na conta de luz. "No momento em que se discute a mitigação nos valores das tarifas de energia, é preciso ter o discernimento de que o aumento da confiabilidade da rede implica em um alto custo a ser pago pelos consumidores", disse.
A fonte consultada pelo Estado também levantou a hipótese de falha no sistema de proteção das linhas. Mas, também como Bernini, prefere esperar o fim das investigações antes de falar em conclusões. Para o consultor Mario Veiga, da PSR, a conjunção de falhas que teriam levado ao apagão pode sim ter ocorrido por motivos pontuais, mas poderia ter sido prevista em checagens prévias e testes de monitoramento do sistema de segurança.
RESTABELECIMENTO
A velocidade no restabelecimento da rede é motivo de divergência entre os especialistas consultados. Para uns, o Operador Nacional do Sistema Elétrico agiu com eficiência, retomando todo o suprimento em um prazo de cerca de três horas - algumas regiões tiveram as luzes religadas menos de uma hora após o corte. Para Veiga, porém, bastariam 45 minutos para que o sistema fosse integralmente conectado dentro de uma operação padrão.

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