sábado, 14 de novembro de 2009

Estação desligada faz ONS alterar fluxo de energia

Térmicas e hidrelétricas do Nordeste foram acionadas
Provavelmente atingido por um raio na noite de terça-feira, o transformador 1 da subestação de Tijuco Preto, em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, permaneceu fora de operação durante toda a quarta-feira, obrigando o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a alterar o fluxo de energia no País. A Usina de Itaipu gerou abaixo do programado oficialmente, por causa dos limites de transmissão da energia para os principais mercados consumidores. Hidrelétricas e térmicas nacionais tiveram de compensar o prejuízo.
O transformador 1 de Tijuco Preto, que converte energia recebida de Itaipu em 745 quilovolts (kV) para energia em 500 kV saiu do sistema na noite de terça, logo após a queda das linhas de Itaipu - segundo o governo, por causa de descargas elétricas em Itaberá. De acordo com o ONS, porém, o equipamento de Mogi das Cruzes demorou a ser religado por causa de um para-raio danificado, o que indica a incidência de raios também naquela região.
Procurada pelo Estado, Furnas, que gere o sistema de transmissão, informou que o equipamento voltou a operar ontem. Por meio de Assessoria de Imprensa, a empresa diz que não é possível confirmar a queda de um raio no transformador e que seu desligamento não teve relação com o apagão que atingiu 18 Estados na terça-feira à noite.
Segundo o boletim preliminar de operação do ONS, a ausência do equipamento no dia seguinte ao apagão provocou grandes mudanças no fluxo de energia do Sistema Interligado Nacional (SIN). Pela programação original, Itaipu deveria inserir 10.964 megawatts (MW) médios no sistema, mas, diante das limitações de transmissão, o volume foi de 7.625 MW médios.
As usinas nucleares de Angra dos Reis, que também caíram na terça à noite, só inseriram 235 MW médios, ante uma previsão de 1.698 MW médios. As duas unidades só foram religadas no final da tarde de quarta-feira.
COMPENSAÇÃO
Para suprir a falta das usinas de Angra e a redução na geração de Itaipu, o ONS ligou térmicas a gás natural e ampliou a geração hidrelétrica no Nordeste e no Sul do País. As primeiras geraram 351 MW médios a mais do que os 1.006 MW médios programados. Já a geração hidráulica nacional foi de 43.747 MW médios, contra um volume projetado anteriormente de 42.247 MW médios.
Segundo o boletim do ONS, o consumo de energia no País na quarta-feira foi menor do que o previsto: 53.096 MW médios verificados contra 55.981 MW médios programados.
''Nós só geramos o que o ONS pede''
Segundo ele, hidrelétrica não estava na potência máxima na hora da falha.
"É ótimo que investiguem. Gostamos de ser fiscalizados. É bom deixar bem claro para a opinião pública que Itaipu trabalhou dentro da margem e com folga", disse o diretor-geral da Itaipu, Jorge Samek. Ele reagiu ao ser informado pelo Estado que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pretende investigar se Itaipu operou acima do limite, sobrecarregando o sistema elétrico na noite do apagão.
A avaliação dos responsáveis pela usina é que a acusação é "um absurdo" e que "ninguém opera sozinho" no sistema elétrico brasileiro. Segundo o diretor-técnico de Itaipu, Antônio Otelo Cardoso, não houve sobrecarga e a responsabilidade pelo sistema de Itaipu - que inclui geração e transmissão - é do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
"O que o ONS pede de energia, nós atendemos. O responsável pela estabilidade do sistema é o ONS", disse Cardoso. Ele esclareceu que a usina só gera a energia requisitada pelo operador nacional. "Nós só geramos o que a ONS pede. Se eles pedem, nós enviamos".
Samek não escondeu sua contrariedade com as acusações e suas suspeitas de que podem ter motivações políticas. "Aqueles que não fizeram, agora viraram professores", disse. "Desde que isso começou tem gente que já operou o sistema elétrico, que sabe como funciona, dizendo barbaridades." Ele afirmou ainda que tentam culpar a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, mas "faz cinco anos que ela não está no ministério de Minas e Energia".
Conforme a área técnica de Itaipu, não houve sobrecarga na usina. Na terça-feira às 22h13, quando ocorreu o acidente, Itaipu produzia 11,8 mil megawatts - 800 mil para o Paraguai e 11 mil megawatts para o Brasil. A potência máxima é de 14 mil megawatts. E, segundo Cardoso, Itaipu chega a produzir 12,6 mil a 13 mil quando a demanda é muito alta.
O diretor técnico da usina binacional explicou que, na noite do incidente, a usina estava enviando para o Brasil 5,6 mil megawatts pelas linhas de corrente alternada e 5,4 mil pelas linhas de corrente contínua.
Segundo o que foi divulgado pelo governo anteontem, o apagão ocorreu porque as três linhas transmissão de corrente alternada desconectaram na subestação de Itaberá (SP), porque foram danificadas pelo mau tempo.
A desconexão dessas três linhas de transmissão baixaram a tensão do sistema. Como a tensão caiu muito, as linhas de corrente contínua, que vão de Foz do Iguaçu até Ibiúna (SP), não conseguiram compensar a energia perdida e desligaram.
As geradoras do Sul também enviam energia para o sistema de transmissão de Itaipu. Essa energia chega ao sistema na subestação de Ivaiporã, que fica antes de Itaberá (SP). Nesse caso, existiria a possibilidade de um excesso de energia vindo do Sul provocar a sobrecarga. No entanto, a produção das geradoras do Sul também é autorizada pelo ONS.
Mas a diretoria de Itaipu também não acredita na possibilidade de uma sobrecarga nas linhas de transmissão de Furnas. "Não houve. Estou garantindo que não houve sobrecarga", disse Samek.
Segundo Cardoso, o número de turbinas em funcionamento em Itaipu não tem importância, porque não é preciso gerar o máximo possível de energia. "Posso trabalhar com 18 turbinas e cada uma com meia carga", disse. "Não importa o número de turbinas, mas a energia que estamos gerando".
Segundo o diretor de Itaipu, uma prova de que a energia gerada não supera a capacidade de Itaipu é que as turbinas ficaram "girando no vazio" depois que o incidente ocorreu.

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