Alemanha se prepara
para abandonar o setor nuclear
Para compensar o fechamento de usinas nucleares, a
Alemanha aposta na energia eólica.
A rede elétrica será
estendida ou renovada em mais de 8 mil quilômetros, por 20 bilhões de euros, a
fim de conduzir a energia eólica do norte para o sul do país
Fim da energia
nuclear, Ato 2. Um ano após a votação, em junho de 2011, da lei que prevê o
fechamento progressivo até 2022 de usinas nucleares que fornecem 22% de sua
eletricidade, a Alemanha está passando à prática.
Nos últimos meses,
proliferavam críticas de todos os lados, de tão estagnada que parecia a
questão, em razão principalmente das divergências entre o Ministério da
Economia e o do Meio Ambiente, os dois copilotos do projeto. Angela Merkel,
após o revés eleitoral sofrido no dia 13 de maio pelo ministro do Meio Ambiente
Norbert Rottgen, candidato derrotado à presidência da Renânia do
Norte-Vestfália, o substituiu por um de seus aliados, Peter Altmaier, até então
secretário da bancada da CDU [União Democrata-Cristã] no Bundestag, o
parlamento alemão.
Para mostrar a
importância que ela tem dado a essa questão, a chanceler fez uma visita agência reguladora da rede elétrica em Bonn, em companhia de
seu novo ministro. Em 31/05 este apresentou seu plano de ação.
Em ambos os casos, os dois dirigentes políticos quiseram calar as críticas que
estavam sendo feitas até mesmo entre a maioria. “A transição energética é
factível da forma como decidimos um ano atrás”, declarou Angela Merkel. “O
abandono do setor nuclear é definitivo e inegociável”, confirmou o ministro.
Essa decisão continua
a suscitar inúmeras questões, técnicas e financeiras. Para os alemães, a
principal é o encaminhamento da eletricidade. Para compensar o fechamento de
usinas nucleares presentes em sua maior parte no sul e no oeste do país, a
Alemanha aposta na energia solar, mas, sobretudo, na energia eólica. Só que os
principais centros industriais estão no Sul (na Baviera e no Bade-Wurtemberg),
e o vento sopra principalmente no norte. Imensos parques eólicos estão sendo
construídos ao largo das costas. É preciso então conectá-los ao sul do país.
“Provavelmente esse é
o ponto decisivo da transição energética”, acredita Martin Fuchs, presidente da
Tennet, uma das quatro operadoras das redes elétricas. Junto com as três outras
redes, 50Hertz, Amprion e Transnet, Martin Fuchs apresentou, na terça-feira
(30), seu projeto de desenvolvimento. Para limitar os incômodos e a oposição
das populações afetadas, as quatro empresas propõem modernizar 4.400
quilômetros da rede existente e construir 3.800 quilômetros de novas linhas,
essencialmente de alta tensão (1.700 quilômetros de corrente alternativa
trifásica clássica, mas também 2.100 quilômetros de corrente contínua de alta tensão,
uma técnica nova que permite transportar a corrente com menos perdas).
O custo desse projeto
que é alvo de um debate público até meados de julho é de 20 bilhões de euros.
“Nós sempre soubemos que a virada energética não sairia de graça”, reconhece Peter
Altmaier. Os alemães já pagam mais caro por sua eletricidade do que os outros
europeus, com exceção dos dinamarqueses: 25,3 centavos de euro por
quilowatt/hora na Alemanha contra 18,4 em média na União Europeia e 14,2 na
França. Segundo a Federação de Energias Renováveis, sua conta poderá aumentar
em 0,5 centavos de euro o quilowatt/hora, ou seja, 15 euros por ano para uma
família de quatro pessoas. Esse cálculo parece otimista para muitos. Além dos
20 bilhões devidos à ampliação da rede terrestre, a conexão dos campos eólicos
ao largo das costas custaria cerca de 12 bilhões de euros e apresenta desafios
complicados. “Em diversas questões técnicas, somos os pioneiros”, reconhece o
presidente do Tennet.
O desenvolvimento da
rede é somente um dos problemas levantados. A participação das energias
renováveis no consumo de eletricidade deve passar de aproximadamente 20% hoje
para 35% em 2020, 50% em 2030 e pelo menos 80% em 2050. Mas as energias solar e
eólica dependem do clima. Para garantir uma produção constante, o país não
poderá dispensar as energias fósseis, entre elas novas usinas de gás ou até de
carvão. Estas últimas não só são poluentes, como sua rentabilidade está longe
de ser garantida. Como as energias renováveis têm um acesso prioritário à rede,
ninguém pode garantir vendas aos proprietários de usinas clássicas.
É um daqueles
assuntos mais delicados que Peter Altmaier terá de decidir junto com seu colega
da Economia. Ele espera mesmo resolver “antes do verão” duas outras questões
espinhosas: quem, do Estado federal ou dos Estados-regiões, pagará o 1,5 bilhão
de euros prometidos aos cidadãos para isolar suas casas? E em que ritmo as
subvenções à indústria solar deverão diminuir? Se o ministro do Meio Ambiente
pode comemorar o fato de que as instalações solares alemãs produziram, no
último dia 25, 22 mil megawatts/hora (o equivalente a 20 usinas nucleares), um
recorde mundial, seu colega encarregado das Finanças só consegue lamentar o
custo para a coletividade.
Pelo menos Altmaier,
que irá com Angela Merkel à cúpula Rio+20 em junho, poderá se orgulhar do
relatório da OCDE publicado no dia 31 de maio, que acredita que, “em matéria de
crescimento verde, a Alemanha está mostrando o caminho a ser seguido”.
(EcoDebate)
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