Nos dias 24 a 27 de
junho, a 35ª edição da conferência internacional da Associação
Internacional de Economia da Energia (IAEE) foi sediada em Perth na Austrália. Essa
conferência é a mais importante da área de economia de energia. Os principais
temas discutidos foram: as perspectivas para o gás natural resultantes da
oferta não convencional, o panorama da energia nuclear no Japão pós-Fukushima e
a mitigação de emissão de CO2 no setor elétrico.
A relação entre as
indústrias de petróleo e gás natural foi discutida, principalmente quanto a
formação de seus preços. A apresentação de Fereidun Fesaraki abordou o tema,
recorrendo a seguinte ilustração: “se o petróleo é um namoro, o gás natural é
um casamento”. Apesar da introdução de flexibilidade a partir da difusão do GNL
e da maior importância de mercados spot, a infraestrutrura de gás exige maior
comprometimento entre os envolvidos. Assim, os contratos de longo prazo ainda
tendem a ser dominantes. Usualmente, contratos de GNL têm duração de quatro a
dezessete anos. São os contratos longos que permitem o financiamento dos
projetos, já que bancos só aceitam participar quando os contratos de compra de
longo prazo são apresentados.
Os debatedores
apontaram que o diferencial de preços entre os mercados norte-americano,
europeu e asiático deve diminuir, mas não desaparecer. Nos Estados Unidos, o preço
do gás se descolou do preço do petróleo em função da produção não convencional
(shale gasprincipalmente). Mesmo com preços baixos do gás no Henry
Hub, a produção de shale gas segue atrativa, pois a extração de líquidos
viabiliza o negócio. Nesse sentido, há uma força de divergência entre os preços
dos combustíveis. O preço elevado do petróleo estimula a continuidade da
exploração de shale gas, que amplia a oferta de gás nos EUA e ajuda a derrubar
mais seu preço.
Os preços do gás
natural na Ásia e Europa são próximos à paridade com o petróleo. As importações
japonesas de GNL resultantes do desligamento das centrais nucleares e do maior
uso de termelétricas a gás inflaram os preços na Ásia e tiveram efeito sobre a
Europa, que também importa GNL. Como a oferta de GNL tende a se elevar nos
próximos anos, o diferencial em relação aos Estados Unidos tende a diminuir,
mas a opinião é que o diferencial não deve desaparecer.
Quanto à oferta de
GNL, a Austrália deve representar um papel muito relevante. Nos últimos 18
meses, seis novos projetos de GNL tiveram início no país. Entre esses, está o
projeto da planta flutuante de GNL da Shell para produzir a partir de coalbed
methane. A meta da Austrália é se tornar o maior exportador de GNL do mundo,
ultrapassando o Qatar em 2017. O país experimentou um boom de projetos
recentemente. No entanto, esses experimentaram problemas de atraso e estouro de
orçamento. Um caso marcante é o projeto de Gorgon da Chevron, que terá
capacidade de produção de 15 milhões de toneladas de GNL por ano e que deve
custar 50 bilhões de dólares (como referência foi citado o projeto da Cheniere
de 9 milhões de toneladas de GNL de capacidade que custou US$ 6,5 Bilhões).
A Agência
Internacional de Energia apresentou dois relatórios sobre gás natural na
conferência. O primeiro, midterm Gas Report 2017, aponta para um crescimento da
demanda de gás de 2,7% ao ano até 2017, com a China representando um quarto da
expansão. A Europa diminuiria o consumo de Gás. Os Estados Unidos
representariam 20% do crescimento da demanda global. A geração termelétrica a
gás natural alcançaria a mesma participação do carvão no país. O estudo “Golden
Rules for a Golden Age of Gas” define os princípios para mitigar os impactos
ambientais e sociais da exploração de gás natural não convencional, que são
mais significativos que a produção convencional. Nos Estados Unidos o número de
poços não convencionais atingirá a marca de 1 milhão, o que causa impacto
ambiental e de uso da terra. Segundo a agência, esses impactos podem ameaçar a
chamada “Golden Age of Gas”. Assim, é necessário tratar os problemas
relacionados à exploração de shale gas, Tigh gas e Coalbed methane com
transparência, medindo e monitorando continuamente os impactos.
No cenário em que
essas regras são respeitadas, a produção de gás cresceria 55% até 2035, com não
convencionais representando 2/3 do aumento. Os Estados Unidos se tornariam o
maior produtor de gás natural do mundo e passariam a exportar o combustível. O
gás natural deslocaria o carvão da segunda posição de fonte primária mais
utilizada no mundo. A geração de eletricidade representaria 40% do crescimento
da demanda.
O cenário
alternativo, com menor produção não convencional, prevê que os Estados Unidos
continuarão como importador de gás. As importações chinesas também serão
relevantes. O gás natural aumentará sua participação na matriz energética
mundial em apenas 1%, que não permitirá alcançar o carvão. Os países se
tornarão mais dependentes das exportações de gás da Rússia e do Oriente Médio.
Em função da maior utilização de carvão as emissões de CO2 aumentam.
O futuro da energia
nuclear no Japão após o acidente de Fukushima foi outro tema abordado na
conferência. Logo após o acidente, todas as usinas nucleares do Japão saíram da
operação. O primeiro ministro japonês permitiu a retomada de dois reatores. A
decisão foi motivada pela segurança do abastecimento e as usinas estão
localizadas nas regiões de abastecimento mais crítico (Kansai e Kyushu). A
retomada da produção nuclear recebeu forte oposição da sociedade japonesa,
apesar das restrições ao uso de eletricidade que ocorrem em função da retirada
da produção nuclear. (advivo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário