Um ano surpreendente para indústria solar americana
Para a indústria de energia solar
nos EUA, 2011 foi um ano histórico. Assim começa o “Us Solar Market Insight: Year-in-Review
2011”, – uma publicação trimestral da Solar Energy Industries Association
(SEIA) e da GTM Research, voltada à análise das condições de mercado,
oportunidades e perspectivas para a indústria de tecnologias relacionadas à
energia solar. São utilizados dados coletados diretamente de produtores,
fabricantes e agências de estado a fim de prover uma análise sobre instalações,
custos, produção e projeções de mercado.
Temos ouvido boas e más notícias do
setor de energias renováveis. Em textos anteriores apresentamos dados positivos
com relação aos chamados greenjobs e, posteriormente, o duro golpe sofrido pelo
governo americano com o financiamento da empresa Solyndra – uma empresa
fabricante de painéis solares que seria um ícone do programa de garantia de
empréstimo às renováveis. A Solyndra decretou falência e não o fez sozinha:
outras empresas do setor também não tiveram solidez suficiente para continuar
no mercado tão competitivo internacionalmente, principalmente devido à presença
da China.
As dificuldades apresentadas
poderiam fazer com que vislumbrássemos um cenário muito difícil para o
desenvolvimento das tecnologias renováveis, por isso as notícias apresentadas
nas últimas semanas pelo The New York Times e pelo The Hill - também citando o
relatório – trouxeram tanta surpresa.
O gráfico abaixo apresenta o número
de instalações fotovoltaicas no período 2010 – 2011, verificadas
trimestralmente e por setor:
Figura 1 – Instalações PV nos EUA,
por trimestre e setor
O quarto trimestre de 2011 teve 776
MW de PV (tecnologia fotovoltaica) instalados – um recorde em toda a história,
já que o maior valor observado até então havia sido de 473 MW. O crescimento
ocorreu em todos os segmentos, e em 18 dos 23 estados verificados.
Nem tudo foi positivo: o relatório
não deixa de mencionar que, no que concerne às instalações, o programa de
financiamento do governo expirou – o que trouxe complicações a muitos dos novos
projetos. Quanto à fabricação, apesar do crescimento da capacidade de módulos
PV ter aumentado em 17%, a demanda cresceu muito pouco, principalmente devido à
situação na Europa: mudanças na regulação da Itália e baixo ritmo de
crescimento da demanda na Alemanha. No ano de 2011 houve também uma drástica
queda nos preços: mais de 50% desde o segundo trimestre, só vindo a se
estabilizar nas últimas semanas do ano. Isto causou sérios danos, especialmente
às empresas menos competitivas em custos e àquelas em processo de
comercialização de novas tecnologias (já vimos ser este um estágio em que a
atuação do governo e do investidor privado é fundamental).
Ainda assim, ao longo de 2011 foi
observado que:
· As instalações PV tiveram um aumento de 109% em
relação a 2010;
· Oito estados instalaram mais de 50 MW cada, no
ano.
· Houve 28 projetos individuais de mais de 10 MW
cada, quando em 2009 esse número era de apenas 2.
· O custo médio do sistema PV caiu 20%.
Além desses, outros dados positivos
são também apresentados para os sistemas concentrados (CSP e CPV), no
documento.
A figura reproduzida abaixo
apresenta a cronologia dos fatos envolvendo a indústria solar no EUA. Nela,
temos a ilustração de importantes acontecimentos dessa indústria no último ano.
Figura 2 – O ano do solar nos
Estados Unidos
Após os reveses do programa de
financiamento americano, uma importante questão surgiu: o apoio à indústria
solar foi bem-sucedido? Seria importante descobrir o alcance do dano. Não é
preciso lembrar o cenário político em que o caso Solyndra ocorreu, levantando
grande oposição do Partido Republicano a esse programa governamental. Outra
questão importante a considerar era a de haver ou não um papel para a indústria
solar no país.
Os dados do crescimento dessa
indústria, até o momento, indicam que sim: o impressionante crescimento
recente, o boom no número de instalações e a maior geração de empregos
no setor fizeram com que a indústria de energia solar se mostrasse capaz de
contribuir com as expectativas do crescimento na demanda de energia. Além
disso, os EUA são o lar de um conjunto de inovações que garantiram uma queda no
custo dessa energia que pode se sustentar por muito tempo.
Conforme a indústria amadurece, a
avaliação do estudo é a de que será possível separar as companhias sustentáveis
e de sucesso daquelas que se mostram ineficazes ao final. O relatório ainda
lembra que a indústria solar não é uma indústria localizada, mas global.
Portanto, está sujeita às mesmas forças econômicas observadas em outros
setores, mundialmente.
Observa-se como um ponto de
destaque na apresentação desses dados o fato de a indústria solar ser parte de
um programa de política energética governamental, instituindo mecanismos de
financiamento, em cooperação com agentes de mercado. É fruto de uma decisão, de
vontade política, como costuma ser o caso de inserções de novas tecnologias na
economia. E isso sem perder de vista a contextualização econômica ao introduzir
as políticas de incentivo pertinentes.
Essa vontade política é o que pode
determinar a viabilização de uma nova tecnologia, garantindo fôlego e
resistência diante dos riscos de generalização de ineficácias pontuais nessa
indústria, ou de novas tecnologias em geral. Mais que isso, criando um ambiente
de desenvolvimento que, em alguns anos, pode até ser chamado de “vocação” do
país para o setor. Na verdade, uma vocação a ser desenvolvida. (ambienteenergia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário