quarta-feira, 18 de julho de 2012

Usina nuclear em Pernambuco

Usina nuclear no sertão de Pernambuco ameaça índios pankarás
Quando o governo transferiu a aldeia da margem do Rio São Francisco para um terreno pedregoso e sem água, em Itacurubá, a 466 quilômetros do Recife, o então cacique Geraldo Cabral pensou que o megaprojeto da Represa de Itaparica  era o último ataque à história dos pankarás, índios que resistiram, durante quatro séculos, a jesuítas, franciscanos, capuchinhos, criadores de gado, escravagistas, cangaceiros, coronéis, líderes messiânicos, corruptos e assentados da reforma agrária.
A história se repete. Tratores amarelos, mesma cor das máquinas que derrubaram malocas antes do enchimento da reserva, em 1988, cortaram a comunidade onde vivem 65 famílias para a abertura de uma estrada estadual, construída com recursos federais. O susto maior foi quando os índios receberam a notícia de que o caminho na caatinga levaria a uma usina nuclear.
O projeto de uma usina no semiárido nordestino chegou a ser anunciado no ano passado pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. A ideia está engavetada, pois não convenceu setores influentes do governo e recebeu críticas pesadas de políticos e cientistas. Uma estrada, porém, começou a ser aberta na terra dos pankarás para garantir o acesso a um sítio, a 8 km das malocas, reservado para a usina.
‘Bomba‘
“No passado, eles tiraram a gente da beira do rio, onde tinha água e peixe. A gente ficou na pedra”, lembra o índio Fernando Antonio da Silva, de 65 anos, um dos mais antigos da tribo. “Só não é pior que ficar ao lado da bomba. Se tiver problema, não vai dar tempo de correr.”
Os técnicos do governo espalharam no centro de Itacurubá a versão de que serão criados, durante as obras, 4 mil empregos – e depois, a usina, que “não é uma bomba”, trará finalmente o desenvolvimento da região. Era uma notícia robusta para os habitantes de Itacurubá, Rodelas e Petrolândia, cidades reconstruídas pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco, a Chesf, após a inundação da represa.
Os moradores da região saíram de uma economia de subsistência, de pequenas criações e lavouras, para viver ao redor das prefeituras e dos salários do funcionalismo público, em novos centros urbanos. “O governo sabe tudo o que está ocorrendo”, diz, resignado, Jorge França, de 40 anos, uma das novas lideranças dos pankarás. “Eles (os políticos) sempre nos viram como pessoas que empatam o desenvolvimento do Brasil”, reclama a cacique Lucélia Leal Cabral, de 34 anos. “Não ganhamos indenização em 1988 e não queremos agora. A tribo precisa apenas de paz para sobreviver.”
Até dezembro de 2002, os índios da região utilizavam vários nomes e expressões para reafirmar sua distintividade étnica, como “caboclo” e “braiado”. No começo de 2003, passaram a adotar o etnônimo Pankará da Serra do Arapuá. Hoje, o povo indígena reúne quase 3 mil pessoas – a Funai só tomou providências quanto ao reconhecimento territorial em 2005. (EcoDebate)

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