Energia Solar: O Sol nasce para todos, mas o Brasil não aproveita
Apesar da grande
incidência de luz solar em todo o território brasileiro, uso dessa fonte para
eletricidade e aquecimento de água é irrisório. Especialistas dizem que
incentivos do governo ainda são insuficientes
A reportagem é de Fernanda
Fraga e publicada pela Gazeta do Povo, 08-07-2012.
Aquecedores solares
de água em conjunto habitacional de Londrina: país aproveita pouco a luz solar.
Não falta sol no
Brasil, mas o aproveitamento de sua energia é uma possibilidade que ainda
desponta muito timidamente no horizonte do país. Na geração de eletricidade,
por exemplo, há apenas oito “usinas” solares, nada perto das 985 centrais e
usinas hidrelétricas do país. No mercado de aquecimento solar de água, apesar
de ocupar a sexta posição do ranking mundial elaborado pela Agência
Internacional de Energia, em números absolutos a capacidade brasileira se
distancia – e muito – da chinesa, a primeira colocada. Enquanto a China tem
capacidade de 117,6 mil megawatts térmicos (MWth, unidade utilizada para medir
a potência térmica), o Brasil conta com apenas 4.278 MWth.
“O desenvolvimento de
fontes de energia renováveis ocorre de forma mais rápida onde não há outras
opções”, explica Lucio Teixeira, diretor de Finanças
Corporativas da Ernst & Young Terco. “No Brasil, temos uma oferta
muito grande de recursos hídricos, discrepante em relação a outros países.
Assim, é natural que se foque nesse tipo de energia”, complementa.
Porém, tão abundante
quanto os rios é a presença do sol no país tropical. De acordo com artigo publicado
na revista Solar Energy, o local com o pior grau de irradiação
no país ainda é 40% superior ao melhor da Alemanha – onde o uso de energia
solar é muito mais desenvolvido.
Para desenvolver o
mercado, informam os especialistas, ainda faltam incentivos. “Para sermos
competitivos, devemos investir em inovação e criar facilidades para
pesquisadores e investidores”, analisa Eloy Casagrande Jr.,
doutor em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente e coordenador do
Escritório Verde da UTFPR.
Para Teixeira,
três pontos têm de ser considerados para atrair investidores. “O primeiro deles
é a tecnologia, que precisa ser disponível. E isso já temos. Depois, é preciso
um ambiente de contratação favorável, isto é, o poder público precisa criar
mecanismos para incentivar os investimentos – como os leilões do setor
elétrico”, continua. Nos últimos meses, o governo aprovou algumas medidas para
incentivar o uso de energias renováveis e sistemas de eficiência energética,
mas, para o analista, elas ainda não são suficientes. Por fim, Teixeira
destaca que a viabilidade econômico-financeira precisa ser encontrada.
Para isso, diz, é necessário o desenvolvimento da indústria nacional, já que a
compra de equipamentos brasileiros baratearia financiamentos e tornaria o negócio
mais atraente aos olhos dos investidores.
Benefícios
Os benefícios do uso
da energia solar envolvem aspectos ambientais e econômicos. “Cada metro
quadrado de energia solar evita 56 metros quadrados de área inundada por
hidrelétrica”, diz Marcelo Mesquita, gestor do Departamento
Nacional de Aquecimento Solar (Dasol), ligado à Associação
Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava).
Usar aquecimento
solar em vez de energia elétrica para a água do banho pode levar a uma economia
de cerca de 30% na conta de energia elétrica. Um estudo divulgado pela Empresa
de Pesquisa Energética (EPE) na última terça-feira revela que
a energia elétrica solar já é viável para 15% dos lares brasileiros.
Fábrica
chinesa quer abrir 5 mil lojas no país
O número é alto: 5
mil lojas no Brasil nos próximos cinco anos. Equivale a quase uma loja por
município – o país tem 5.565 cidades. Supera, as mais de 600 lojas que a rede
de fast food McDonald’s tem no país e até o número de franquias do
Boticário, o maior franqueador do país, com 3.337 unidades.
O plano foi anunciado
durante a Rio+20 por Huang Ming, presidente da Himin Solar,
gigante chinesa da área de aquecimento solar. A ação é parte da estratégia de
popularizar as climate marts, lojas no estilo de franquia que oferecem produtos
ligados à energia solar, com objetivo de tornar as tecnologias mais acessíveis.
A previsão é de abrir 50 mil lojas em todo o mundo.
A justificativa é
“verde”: “Se houver 50 mil climate marts, a energia renovável vai se espalhar
mais amplamente, e haverá esperança para a melhora do clima”, disse Ming
na conferência. No mercado brasileiro, a Himin já tem uma parceira, a
curitibana Nadezhda, empresa recém-criada pelo empresário Fernando
Buffa.
O mercado de
aquecimento solar no Brasil cresceu a uma média de 15% nos últimos três anos,
de acordo com o Departamento Nacional de Aquecimento Solar (Dasol).
Em 2011, movimentou cerca de US$ 500 milhões. “É importante que haja
diversidade”, comenta Marcelo Mesquita, gestor do Dasol, sobre a possível vinda
da Himin. “O consumidor tem que ter bons produtos e se uma empresa está se
propondo a oferecer isso, é bem vinda.”
Mesquita destaca, porém, que é difícil fazer qualquer
análise, uma vez que não se sabe se os planos da empresa serão mesmo
concretizados. Se isso ocorrer, a franquia chinesa teria mais lojas que o total
de empresas de aquecimento solar hoje existentes no Brasil – são cerca de 2
mil.
A Himin Solar
foi criada em 1995 e sua fábrica tem mais de 4 mil funcionários. É
Huang Ming o idealizador do Solar Valley, maior base de produção de
energia solar do mundo, localizado na China. Ele funciona como uma cidade, com
hotéis, fábricas, centros de pesquisa e convenções. (EcoDebate)
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