Empresa emite ações, alonga dívidas e gera rumores no mercado sobre sua possível venda.
A Brasil Ecodiesel chegou à BM&FBovespa com a promessa de se tornar uma gigante brasileira do biodiesel. Com o excesso de capacidade de produção no mercado brasileiro, entretanto, a empresa foi obrigada a trabalhar com prejuízo, entrou em uma disputa judicial com sua maior cliente - a Petrobras - e viu o preço de suas ações desabarem. Agora, no entanto, a Brasil Ecodiesel prepara uma reviravolta que começou com a reestruturação de sua dívida.
A empresa deve concluir nesta semana o segundo aumento de capital neste ano e negocia a troca de parte de seus débitos por ações. Os maiores credores da Brasil Ecodiesel hoje são os bancos Bradesco, Santander, Fibra, Fator, BMG e Daycoval, entre outros. O endividamento total caiu de 290,7 milhões de reais em março para 229 milhões de reais em junho. Com o segundo aumento de capital, a empresa espera reduzir a dívida para 120 milhões de reais - sendo que só 40 milhões de reais vencerão no curto prazo.
A primeira etapa da estratégia que prevê a troca de novos papéis por dívidas conseguiu elevar o capital em R$ 104 milhões, sendo R$ 59 milhões em conversão de dívidas e R$ 45 milhões em dinheiro novo. A segunda fase, com encerramento previsto para 7 de agosto, tem como objetivo captar entre 118 milhões de reais e 408 milhões de reais. Do montante total, 106 milhões de reais devem ter como origem a conversão de dívidas em ações.
Em conjunto com a proposta para o segundo aumento de capital, os credores se comprometeram a alongar 78 milhões de reais em dívidas restantes para 48 meses, com pagamento da primeira parcela em julho de 2010, com custo de 120% do CDI, inferior ao valor atual dos empréstimos que a empresa vinha obtendo.
A reestruturação financeira permitiu à empresa recompor o capital de giro e retomar parte das operações. Por conta dos problemas financeiros e desentendimentos com a Petrobras, a empresa tem operado abaixo da capacidade. Dos 19,3 milhões de litros produzidos no segundo trimestre deste ano, volume aproximadamente 1,8% acima do produzido em igual período do ano passado (18,9 milhões de litros), 12,7 milhões foram processados em junho.
Apesar de representar um avanço, o volume é pequeno em relação à capacidade de 723,6 milhões de litros por ano que está autorizada a produzir pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Em 2008, a companhia ficou na vice-liderança do mercado brasileiro de biodiesel com a produção de 129,1 milhões de litros.
Rumores
Se a reestruturação da dívida for bem-sucedida, o rumor que circula no mercado é que a Brasil Ecodiesel possa ser vendida. Analistas ouvidos pelo Portal EXAME acreditam que para ganhar dinheiro no mercado hoje as empresas de biodiesel precisam ser também produtoras de farelo de soja - o que não é o caso da Brasil Ecodiesel.
Também corrobora para os rumores de venda a atual estrutura acionária pulverizada. Os controladores originais da empresa - Nelson José Côrtes da Silveira e os fundos Boardlock, Zartman e Carleton - já chegaram a deter cerca de 50% do capital, mas como eles não participaram dos dois processos de aumento de capital, suas participações foram diluídas.
Dessa forma, eles perderam o direito ao controle da companhia e se comprometeram a não voltar a tomar decisões na gestão pelo período de cinco anos. A expectativa da própria Brasil Ecodiesel é de que, após os dois aumentos de capital, a empresa passe a ter seu capital bastante pulverizado entre uma base de 16.000 acionistas, sendo que os maiores detentores de papéis teriam apenas 10% do capital.
A direção da empresa não confirma nem nega os rumores de venda. "Eu não posso comentar esse assunto porque somos uma companhia de capital aberto", diz o presidente da Brasil Ecodiesel, José Carlos Aguilera. "O que eu posso te dizer é que não temos nenhuma pendência com a Comissão de Valores Mobiliários [CVM] nem lançamos mão de um processo de recuperação judicial. Estamos com nossos impostos e nossa folha de pagamento em dia."
De volta ao azul
Ao mesmo tempo em que reestrutura sua dívida, a Brasil Ecodiesel conseguiu resultados operacionais positivos nos últimos meses. A companhia apurou lucro líquido de R$ 21 milhões no segundo trimestre deste ano, contra um prejuízo de 84 milhões em igual período do ano passado A margem líquida alcançou 41,6%, algo bastante representativo para uma empresa que trabalhou durante vários meses no vermelho.
Paralelamente ao enxugamento nos gastos, a recuperação do preço do biodiesel e a queda do preço das principais matérias-primas que compõem os custos de produção foram decisivas para a melhora na geração de caixa da Brasil Ecodiesel. O Ebtida (resultado antes de juros, impostos, amortizações e depreciações) passou de 25 milhões de reais negativos para 1,9 milhões de reais negativos.
Segundo o analista de investimentos da corretora SLW, Erick Scott Hood, embora a companhia tenha voltado a operar no azul, essa reversão nos resultados ainda precisa ser analisada com cautela. Primeiro porque parte dos ganhos está atrelado a itens não-recorrentes como benefícios fiscais, queda nos custos do metanol e uma forte retração nos gastos.
Além disso, alguns desses benefícios podem acabar. É que está em curso no Ministério do Desenvolvimento Agrário um processo que pode excluir a Brasil Ecodiesel da lista das atuais 31 empresas de biodiesel que possuem o "selo combustível social". Por meio do selo, o produtor de biodiesel tem acesso a alíquotas de PIS e Cofins com coeficientes de redução diferenciados e também a melhores condições de financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ao Banco do Brasil, entre outras instituições financeiras.
Outro problema que ainda pesa sobre a Brasil Ecodiesel é um desentendimento com a Petrobras sobre retirada e entrega de biodiesel, que virou alvo de uma ação judicial que está em andamento. Segundo fato relevante, encaminhado ao mercado em 25 de junho, a Brasil Ecodiesel afirma ter recebido correspondência encaminhada pela Petrobras, informando a disposição da estatal em negociar termos e condições sobre eventuais pendências que pudessem ocorrer em virtude da ação judicial.
Aguilera, o presidente da Brasil Ecodiesel, define todos esses percalços dos últimos três anos como "cicatrizes de batalha". As ações da empresa, que estrearam na BM&FBovespa ao final de 2006 com o valor de 12 reais agora são negociados a cerca de 0,70 centavos. Mas é preciso reconhecer que a Brasil Ecodiesel está tentando fazer seu dever de casa. Se a estratégia der certo, os papéis da empresa se transformarão em uma oportunidade interessante para quem deseja apostar no potencial futuro do setor de biocombustíveis.
A Brasil Ecodiesel chegou à BM&FBovespa com a promessa de se tornar uma gigante brasileira do biodiesel. Com o excesso de capacidade de produção no mercado brasileiro, entretanto, a empresa foi obrigada a trabalhar com prejuízo, entrou em uma disputa judicial com sua maior cliente - a Petrobras - e viu o preço de suas ações desabarem. Agora, no entanto, a Brasil Ecodiesel prepara uma reviravolta que começou com a reestruturação de sua dívida.
A empresa deve concluir nesta semana o segundo aumento de capital neste ano e negocia a troca de parte de seus débitos por ações. Os maiores credores da Brasil Ecodiesel hoje são os bancos Bradesco, Santander, Fibra, Fator, BMG e Daycoval, entre outros. O endividamento total caiu de 290,7 milhões de reais em março para 229 milhões de reais em junho. Com o segundo aumento de capital, a empresa espera reduzir a dívida para 120 milhões de reais - sendo que só 40 milhões de reais vencerão no curto prazo.
A primeira etapa da estratégia que prevê a troca de novos papéis por dívidas conseguiu elevar o capital em R$ 104 milhões, sendo R$ 59 milhões em conversão de dívidas e R$ 45 milhões em dinheiro novo. A segunda fase, com encerramento previsto para 7 de agosto, tem como objetivo captar entre 118 milhões de reais e 408 milhões de reais. Do montante total, 106 milhões de reais devem ter como origem a conversão de dívidas em ações.
Em conjunto com a proposta para o segundo aumento de capital, os credores se comprometeram a alongar 78 milhões de reais em dívidas restantes para 48 meses, com pagamento da primeira parcela em julho de 2010, com custo de 120% do CDI, inferior ao valor atual dos empréstimos que a empresa vinha obtendo.
A reestruturação financeira permitiu à empresa recompor o capital de giro e retomar parte das operações. Por conta dos problemas financeiros e desentendimentos com a Petrobras, a empresa tem operado abaixo da capacidade. Dos 19,3 milhões de litros produzidos no segundo trimestre deste ano, volume aproximadamente 1,8% acima do produzido em igual período do ano passado (18,9 milhões de litros), 12,7 milhões foram processados em junho.
Apesar de representar um avanço, o volume é pequeno em relação à capacidade de 723,6 milhões de litros por ano que está autorizada a produzir pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Em 2008, a companhia ficou na vice-liderança do mercado brasileiro de biodiesel com a produção de 129,1 milhões de litros.
Rumores
Se a reestruturação da dívida for bem-sucedida, o rumor que circula no mercado é que a Brasil Ecodiesel possa ser vendida. Analistas ouvidos pelo Portal EXAME acreditam que para ganhar dinheiro no mercado hoje as empresas de biodiesel precisam ser também produtoras de farelo de soja - o que não é o caso da Brasil Ecodiesel.
Também corrobora para os rumores de venda a atual estrutura acionária pulverizada. Os controladores originais da empresa - Nelson José Côrtes da Silveira e os fundos Boardlock, Zartman e Carleton - já chegaram a deter cerca de 50% do capital, mas como eles não participaram dos dois processos de aumento de capital, suas participações foram diluídas.
Dessa forma, eles perderam o direito ao controle da companhia e se comprometeram a não voltar a tomar decisões na gestão pelo período de cinco anos. A expectativa da própria Brasil Ecodiesel é de que, após os dois aumentos de capital, a empresa passe a ter seu capital bastante pulverizado entre uma base de 16.000 acionistas, sendo que os maiores detentores de papéis teriam apenas 10% do capital.
A direção da empresa não confirma nem nega os rumores de venda. "Eu não posso comentar esse assunto porque somos uma companhia de capital aberto", diz o presidente da Brasil Ecodiesel, José Carlos Aguilera. "O que eu posso te dizer é que não temos nenhuma pendência com a Comissão de Valores Mobiliários [CVM] nem lançamos mão de um processo de recuperação judicial. Estamos com nossos impostos e nossa folha de pagamento em dia."
De volta ao azul
Ao mesmo tempo em que reestrutura sua dívida, a Brasil Ecodiesel conseguiu resultados operacionais positivos nos últimos meses. A companhia apurou lucro líquido de R$ 21 milhões no segundo trimestre deste ano, contra um prejuízo de 84 milhões em igual período do ano passado A margem líquida alcançou 41,6%, algo bastante representativo para uma empresa que trabalhou durante vários meses no vermelho.
Paralelamente ao enxugamento nos gastos, a recuperação do preço do biodiesel e a queda do preço das principais matérias-primas que compõem os custos de produção foram decisivas para a melhora na geração de caixa da Brasil Ecodiesel. O Ebtida (resultado antes de juros, impostos, amortizações e depreciações) passou de 25 milhões de reais negativos para 1,9 milhões de reais negativos.
Segundo o analista de investimentos da corretora SLW, Erick Scott Hood, embora a companhia tenha voltado a operar no azul, essa reversão nos resultados ainda precisa ser analisada com cautela. Primeiro porque parte dos ganhos está atrelado a itens não-recorrentes como benefícios fiscais, queda nos custos do metanol e uma forte retração nos gastos.
Além disso, alguns desses benefícios podem acabar. É que está em curso no Ministério do Desenvolvimento Agrário um processo que pode excluir a Brasil Ecodiesel da lista das atuais 31 empresas de biodiesel que possuem o "selo combustível social". Por meio do selo, o produtor de biodiesel tem acesso a alíquotas de PIS e Cofins com coeficientes de redução diferenciados e também a melhores condições de financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ao Banco do Brasil, entre outras instituições financeiras.
Outro problema que ainda pesa sobre a Brasil Ecodiesel é um desentendimento com a Petrobras sobre retirada e entrega de biodiesel, que virou alvo de uma ação judicial que está em andamento. Segundo fato relevante, encaminhado ao mercado em 25 de junho, a Brasil Ecodiesel afirma ter recebido correspondência encaminhada pela Petrobras, informando a disposição da estatal em negociar termos e condições sobre eventuais pendências que pudessem ocorrer em virtude da ação judicial.
Aguilera, o presidente da Brasil Ecodiesel, define todos esses percalços dos últimos três anos como "cicatrizes de batalha". As ações da empresa, que estrearam na BM&FBovespa ao final de 2006 com o valor de 12 reais agora são negociados a cerca de 0,70 centavos. Mas é preciso reconhecer que a Brasil Ecodiesel está tentando fazer seu dever de casa. Se a estratégia der certo, os papéis da empresa se transformarão em uma oportunidade interessante para quem deseja apostar no potencial futuro do setor de biocombustíveis.
Um comentário:
Parabéns. Muito fundamentada a exelênte matéria. Informações relevante e com sua experiência e formação, acabam tirando dúvidas de investidores sardinhas da BM&F. Abraços e obrigado.
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