terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Na balança, zero de carbono e 100% de biocombustível

O Brasil reúne as condições ideais para suprir suas necessidades energéticas a partir de fontes renováveis
O presidente Lula fará parte da história deste país por diversos feitos realizados em sua gestão. Uma trajetória como a dele é rara, o que lhe rende admiração e inimigos. O que nem ele, e nem tampouco ministros e assessores perceberam ainda, é que esse protagonismo como destacada liderança da nação e do mundo pode assumir proporções sem igual por conta da preocupação generalizada com o meio ambiente. Sem qualquer oportunismo, é possível deixar um enorme legado com a gestão que tornaria o Brasil o primeiro do ranking em sustentabilidade ambiental com medidas que levariam à redução total das emissões de carbono e manutenção do estoque integral de etanol e biodiesel, combustível limpo, por aqui mesmo.
O Brasil é hoje um dos grandes emissores de CO2 em razão das queimadas na floresta amazônica, que contribuem com mais de 60% do total de dióxido de carbono lançado na atmosfera. Este fato explica o 5º lugar na lista de países que jogam no ar gases que contribuem para o efeito estufa, principal causador das mudanças climáticas que estamos presenciando. De possível "salvador do planeta", o país acaba sendo visto como um dos vilões do aquecimento global. Não é de agora que a opinião pública de fora expressa grande preocupação com a destruição da Amazônia. Deste lado do Atlântico, se observa certa perturbação envolvendo ONGs, missionários e políticos estrangeiros, acusados de querer "internacionalizar" aquele território. Alguns até são apontados como elementos a serviço de corporações interessadas no chamado "ouro verde", ou seja, a riqueza da biodiversidade local.
Mas vamos lembrar alguns fatos por vezes esquecidos nesta discussão. O Brasil tem uma matriz energética extremamente limpa, com 85% da eletricidade oriunda de usinas hidrelétricas e de co-geração de biomassa e mais de 25% de todo o combustível consumido para o transporte rodoviário originado do solo, o que o torna uma fonte renovável.
A produção de etanol a partir do Proálcool, programa pioneiro da União criado há 30 anos, permite a substituição de mais de 50% da gasolina pelo álcool em automóveis. As respectivas plantações de cana ocupam menos de 3% de toda a área produtiva, mas são responsabilizadas injustamente pela alta mundial dos preços agrícolas. Lobistas e parte da mídia condenam plantações de cana destinadas à fabricação de álcool combustível por supostamente avançar sobre a floresta tropical e destruir a mata que abriga inúmeras bacias de seqüestro de carbono. Não se diz, porém, que a principal região de plantio dessa matéria-prima está distante 3 mil quilômetros da Amazônia e que ainda existe muita terra disponível e sem cultivo - são mais de 50 milhões de hectares apenas nos estados do Centro-Sul.
Os 20 milhões de m³ de etanol consumidos anualmente fazem com que o Brasil deixe de lado a mesma quantidade de combustível fóssil, o que evita a emissão de 48 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Inicialmente subsidiado pelo governo, o Proálcool se tornou autossustentável e altamente competitivo. O break-even que evidencia a vantagem econômica do álcool sobre a gasolina foi atingido nos bons e velhos tempos de quando o barril de petróleo bateu na casa dos US$ 30.
Implantado por lei em 2006, o programa do biodiesel prevê que cada litro de diesel vendido nos postos em todo o território nacional contenha 2% do combustível renovável em sua mistura. De pouco em pouco, esse montante alcançou a marca de 1 milhão de toneladas/ano. Contas feitas, chegamos a 2,4 milhões de toneladas anualmente de gás carbônico que a terra brasilis evita intoxicar a todos. Falando em dinheiro, o carbono evitado por biocombustível equivale a cerca de US$ 80 milhões, valor não cobrável nos moldes do Protocolo de Kyoto por não se tratar de uma medida voluntária.Fica a sugestão de que todo o esforço adicional para se utilizar biocombustíveis no lugar dos fósseis seja feito por absoluta iniciativa do mercado, de acordo com modelos determinados de produção e consumo, com benefício de regiões onde há disponibilidade de fontes energéticas e consumo em frotas cativas, e não "por decreto", possibilitando desta maneira a efetiva negociação das emissões no mercado internacional de carbono.

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