sábado, 26 de dezembro de 2009

Implantação não pode ser feita de um dia para o outro

O Grupo Combustíveis Alternativos do IFGW está iniciando uma pesquisa visando à gaseificação da palha de cana para obtenção de biocombustível e de bio-óleos, e também ao uso deste resíduo em briquetes. A tecnologia de gaseificação e conversão deste gás em combustível líquido foi utilizada na Segunda Guerra, quando a Alemanha de Hitler, sem acesso ao petróleo, passou a transformar carvão mineral em gasolina através do processo batizado com os nomes de seus criadores: Fischer-Tropsch. A novidade é a tentativa do uso da palha de cana como matéria-prima, em respeito ao meio ambiente.
O professor Carlos Luengo, coordenador do grupo, não esconde a expectativa pelo desenvolvimento de um novo processo para extrair energia de forma sustentável, mas é ponderado em relação à sua implantação. “A aplicação de uma nova tecnologia não pode ser feita de um dia para outro, pois há muita gente que vive do trabalho com a cana. Ela deve ser introduzida lentamente, a fim de absorver esta mão-de-obra”.
O pesquisador Walfrido Pippo mostra o reator instalado no laboratório e afirma que o Brasil possui boa tecnologia para viabilizar esta pesquisa, mas atenta para as extensões geográficas do país e a falta de logística para a coleta e exploração da palha como matéria-prima. “A infra-estrutura para aproveitamento da palha ou de outros resíduos agrícolas não está consolidada, nem aqui, nem no mundo. A África do Sul utiliza bastante a Fischer-Tropsch, mas baseada no carvão mineral, que é altamente poluente”.
Briquetagem
O grupo do IFGW vem estudando outra forma de reaproveitamento energético de resíduos vegetais, que é a briquetagem. Trata-se da compactação desses resíduos ou mesmo de serragem para a produção de briquetes que podem substituir a lenha e o carvão vegetal. “Nos churrascos do nosso grupo, usamos briquetes ao invés de carvão, tal como as pessoas fazem nos Estados Unidos”, brinca Walfrido Pippo, mostrando o tamanho desproporcionalmente menor da caixa contendo o produto compactado ao lado de um saco de carvão.
Nos primórdios do carro flex
Atuando há décadas na área de planejamento de sistemas energéticos, o professor Carlos Luengo nem se lembrava do seu artigo publicado em fevereiro de 1980 pela revista da Sociedade de Engenharia Mecânica dos Estados Unidos. “O artigo descrevia os bons resultados de um dispositivo eletrônico que permitia misturar álcool à gasolina, avaliado pela equipe do docente a pedido da empresa fabricante. Naquela época em que os carros tinham carburadores, o dispositivo foi adaptado em carros de alunos e funcionários, e acompanhamos o rendimento do motor com 50% de etanol”.Luengo conta que a empresa estava disposta a investir pesadamente no dispositivo, dependendo dos testes finais de motor na Fiat de Contagem (MG). Pode-se dizer que seria o meio do caminho para os carros flex de hoje. “Só que o experimento falhou. Os testes foram feitos dentro da montadora, onde havia muito ruído eletrônico que interferia no funcionamento do dispositivo. A empresa desistiu do negócio. Tempos depois é que dei conta da minha falta de criatividade no momento: bastava ter instalado um fio terra no motor”.

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