sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Pesquisador desenvolve aparelho que produz eletricidade a partir do movimento da água em pequenos cursos e corredeiras

Pesquisador da Universidade Federal de Itajubá desenvolve o hidrofólio, aparelho que produz eletricidade a partir do movimento da água em pequenos cursos e corredeiras
Energia para áreas remotas – Já está em fase de produção industrial um equipamento desenvolvido na Universidade Federal de Itajubá (Unifei), em Minas Gerais, que vai aproveitar a correnteza de pequenos rios para gerar energia. O hidrofólio como foi batizado pelo seu criador, Geraldo Lúcio Tiago Filho, professor titular da universidade e secretário executivo do Centro Nacional de Referência em Pequenas Centrais Hidrelétricas (Cerpch), é ideal para ser usado em rios rasos e lentos, com velocidade de água menor que 1m/s. O equipamento pode ser aplicado em corredeiras, canais de fuga de centrais elétricas e pequenos cursos d’água, sendo capaz de produzir até 15kw, o suficiente para suprir a demanda de 15 famílias.
“O hidrofólio é inédito e foi criado para atender comunidades ribeirinhas isoladas, sem acesso à energia”, explica Tiago Filho. O mapa da exclusão elétrica no país mostra que as pessoas nessa condição vivem, em sua maior parte, em localidades onde o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é baixo. Cerca de 90% das famílias sem acesso à eletricidade têm renda inferior a três salários mínimos, e 80% estão no meio rural. Entre 2004 e 2008, o programa Luz para Todos, do governo federal, tirou da exclusão elétrica 1,8 milhão de famílias. Para o biênio 2009/2010 a previsão é de que 1,1 milhões de novos domicílios sejam beneficiados.
Fora dessa meta, porém, restam ao menos 168 mil famílias. Elas estão espalhadas pelo Amazonas (41 mil famílias), pela Bahia (90 mil) e por Minas Gerais (37 mil). Esse deficit, porém, não inclui os novos domicílios erguidos em áreas já atendidas pelo sistema de energia elétrica e que ficaram de fora do programa por conta do alto custo das ligações, da insuficiência de material e de mão de obra na região. A criação do professor da Unifei pode atender justamente parte dessa população.
O equipamento funciona como o aerofólio da asa de um avião (peça que permite a sustentação da aeronave no ar), só que submerso. O funcionamento é simples. A água passa pelo hidrofólio, empurrando-o para cima. Quando isso ocorre, um dispositivo armado faz a asa girar, perdendo a sustentação, e ela volta a cair. “Isso provoca um movimento oscilatório de cima para baixo”, explica o professor.
Segundo ele, esse movimento é transferido para uma haste articulada que funciona como um braço do hidrofólio. Ela aciona um gerador instalado dentro do equipamento e transforma a correnteza do rio em energia elétrica. A largura da máquina depende do porte do rio ou do percurso da água, e a energia produzida é usada para carregar baterias que podem suprir a necessidade de pequenas comunidades. “O Sistema Interligado Nacional gera energia e a conecta à rede de transmissão. Quando o sistema é isolado, é necessário garantir uma energia da qual não se dispõe”, observa o professor. A solução permitida pelo novo mecanismo é gerar energia a partir de pequenos cursos de água, armazenando-a numa espécie de banco de bateria. “Quando a demanda está alta, a comunidade usa a bateria, que é recarregada quando o consumo está baixo”, esclarece.
O professor conta que os testes de funcionamento do perfil duraram um ano. Agora, o aparelho está sendo desenvolvido comercialmente, dentro de um programa da própria Unifei. “Conseguimos financiamento para melhorar a qualidade do produto, que hoje tem concepção industrial.” Em 2010, uma empresa incubada na universidade começará a fabricar o hidrofólio. A expectativa é que um equipamento de 1kw seja vendido no mercado por cerca de R$ 14 mil. Os clientes potenciais são as concessionárias de energia, que, segundo a legislação em vigor, têm a obrigação de fornecer o insumo para as comunidades rurais. A expectativa, segundo ele, é atender aos programas de energia alternativa das próprias concessionárias. “Em comparação com os gastos para se levar uma linha de transmissão a esses rincões, o hidrofólio sai muito mais barato”, garante Tiago Filho.


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