quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Uma ilha verde na China

Numa tentativa de melhorar a imagem, o país que mais emite poluentes no mundo ergue a sua primeira cidade ecológica.
Com uma população de 1,5 bilhões de habitantes e a economia mais sexy da atualidade, a China coleciona uma série de atributos superlativos. O país conquistou neste ano mais um deles ao tomar dos Estados Unidos a liderança entre os maiores emissores de poluentes do planeta.
Um recente levantamento do Banco Mundial mostra que, das 20 cidades mais poluídas, 16 são chinesas. Uma névoa amarelada, resultado da emissão de dióxido de enxofre pela queima de carvão, a principal fonte de energia do país, cobre o horizonte de cidades como Xangai, uma das mais industrializadas da China.
A 25 quilômetros dali, o governo chinês está erguendo um projeto que promete mudar o cenário local. Trata-se da vila de Dongtan, localizada na ilha de Chongming, que deverá se tornar a primeira cidade ecológica do mundo até 2010.
Com 86 quilômetros quadrados, Dongtan tem uma área semelhante à de Manhattan, em Nova York. Se o cronograma for cumprido à risca, na conclusão da primeira fase da obra a cidade vai acomodar 10.000 pessoas. Até 2050, deve receber 500.000 habitantes.
Sem chaminés e com extensas áreas verdes, a vila se transformará numa espécie de paraíso se com parada às cidades chinesas que crescem desordenadamente.
"Dongtan será um modelo para todo o mundo", disse a EXAME Sally Quigg, diretora de relações institucionais da Arup, consultoria inglesa especializada em design e inovação, responsável pelo projeto. "Pela primeira vez vamos mostrar que uma cidade pode realmente se desenvolver de forma sustentável."
Algumas das características de Dongtan a fazem parecer cenário de filme de ficção - ou devaneio de ambientalista. Os veículos tradicionais serão banidos.
As ruas serão tomadas por bicicletas e lambretas movidas a bateria ou carros à base de hidrogênio. Apenas 7 minutos de caminhada virão separar as casas de toda a infra-estrutura da cidade, como escolas, hospitais e transporte público.
Os prédios da eco-cidade terão de três a seis andares (sem elevadores) e serão projetados de forma a receber o máximo de luz solar no inverno e o mínimo no verão, minimizando assim a necessidade de sistemas de aquecimento ou refrigeração.
A cidade será auto-suficiente em energia e água. Só serão admitidas fontes alternativas e renováveis, como a força dos ventos, além de biogás e de biomassa, sobretudo a partir de casca de arroz.
O sistema de água será duplo, com encanamentos de água potável e não potável - o segundo, usado para descargas e irrigação, por exemplo. Cerca de 80% do lixo será reciclado e até os dejetos serão processados e reutilizados como adubo.
A transformação de Dongtan a tornará o ícone mais representativo do esforço da China para reduzir as emissões de carbono nos próximos anos e, ainda assim, manter taxas de crescimento exuberantes.
A cidade servirá como uma espécie de prova de que o governo chinês está, sim, preocupado com a questão ambiental, uma crescente fonte de pressão de organismos internacionais.
O projeto da primeira cidade ecológica do mundo surgiu como iniciativa do governo de Xangai, dono de 56% da segunda maior construtora do país, a Shangai Industrial Investment Corporation (SIIC).
Em agosto de 2005, os representantes da SIIC contrataram a Arup. O primeiro passo da consultoria foi reunir um grupo de 150 especialistas para o projeto, entre sociólogos, filósofos, economistas e até ornitólogos.
Por enquanto, o investimento para erguer essa cidade-modelo é mantido em segredo. "Neste momento, representantes da SIIC estão montando um fundo para custear as obras", afirma Sally.
Um dos principais desafios dos responsáveis pelo projeto é tornar a cidade economicamente viável e, ao mesmo tempo, reduzir ao máximo a emissão de gás carbônico e preservar o meio ambiente - sobretudo o hábitat dos pássaros migratórios que fazem da região uma parada para sua rota de vôo entre a Austrália e a Sibéria.
A previsão é que Dongtan acolha atividades de baixo impacto ambiental, como empresas de alta tecnologia, universidades e turismo ambiental. Além disso, a maior parte dos alimentos será produzida nas fazendas dos arredores da cidade, com técnicas orgânicas e sustentáveis.
Há outros três projetos semelhantes a Dongtan na China. Todos eles devem sair do papel depois da conclusão da primeira fase da empreitada.
A idéia começa a inspirar também outros países. Em abril, o prefeito de Londres, Ken Livingstone, anunciou que está planejando um bairro com os mesmos princípios de Dongtan.
O projeto está previsto para ser inaugurado em 2010. Apesar do esforço - e do marketing envolvido -, na opinião de especialistas o alcance de uma iniciativa como Dongtan está longe de conseguir reverter a caótica situação ambiental chinesa.
"O problema é enorme e mostra como a sociedade atual pode ser autodestrutiva", diz Saskia Sassen, professora de sociologia urbana da Universidade de Columbia, em Nova York, e especialista em globalização. "O modelo de uma cidade sustentável como Dongtan tem um apelo mais simbólico do que prático.
PARECE FICÇÃO
As principais características do projeto da cidade ecológica chinesa
Vida sem carro
- Todas as casas estarão no máximo a 7 minutos a pé de meios de transporte público, e com fácil acesso a escolas, hospitais e locais de trabalho;
- Os únicos veículos aceitos serão bicicletas ou movidos a combustíveis limpos- como bateria e células de hidrogênio.
Energia limpa
- A energia virá de fontes renováveis, sobretudo da biomassa de casca de arroz e dos ventos;
- Os prédios terão até seis andares, para dispensar elevadores. O uso da energia solar e a circulação de ar permitirão economizar 70% da energia em geral usada para climatização.
Menos lixo
- Cerca de 80% dos resíduos sólidos serão reaproveitados. O lixo orgânico será usado para a produção de energia;
- Um sistema de reaproveitamento da água (usada para descargas e irrigação) vai reduzir o consumo desse recurso à metade.
Com uma população de 1,5 bilhões de habitantes e a economia mais sexy da atualidade, a China coleciona uma série de atributos superlativos. O país conquistou neste ano mais um deles ao tomar dos Estados Unidos a liderança entre os maiores emissores de poluentes do planeta.
Um recente levantamento do Banco Mundial mostra que, das 20 cidades mais poluídas, 16 são chinesas. Uma névoa amarelada, resultado da emissão de dióxido de enxofre pela queima de carvão, a principal fonte de energia do país, cobre o horizonte de cidades como Xangai, uma das mais industrializadas da China.
A 25 quilômetros dali, o governo chinês está erguendo um projeto que promete mudar o cenário local. Trata-se da vila de Dongtan, localizada na ilha de Chongming, que deverá se tornar a primeira cidade ecológica do mundo até 2010.
Com 86 quilômetros quadrados, Dongtan tem uma área semelhante à de Manhattan, em Nova York. Se o cronograma for cumprido à risca, na conclusão da primeira fase da obra a cidade vai acomodar 10.000 pessoas. Até 2050, deve receber 500.000 habitantes.
Sem chaminés e com extensas áreas verdes, a vila se transformará numa espécie de paraíso se com parada às cidades chinesas que crescem desordenadamente.
"Dongtan será um modelo para todo o mundo", disse a EXAME Sally Quigg, diretora de relações institucionais da Arup, consultoria inglesa especializada em design e inovação, responsável pelo projeto. "Pela primeira vez vamos mostrar que uma cidade pode realmente se desenvolver de forma sustentável."
Algumas das características de Dongtan a fazem parecer cenário de filme de ficção - ou devaneio de ambientalista. Os veículos tradicionais serão banidos.
As ruas serão tomadas por bicicletas e lambretas movidas a bateria ou carros à base de hidrogênio. Apenas 7 minutos de caminhada virão separar as casas de toda a infra-estrutura da cidade, como escolas, hospitais e transporte público.
Os prédios da eco-cidade terão de três a seis andares (sem elevadores) e serão projetados de forma a receber o máximo de luz solar no inverno e o mínimo no verão, minimizando assim a necessidade de sistemas de aquecimento ou refrigeração.
A cidade será auto-suficiente em energia e água. Só serão admitidas fontes alternativas e renováveis, como a força dos ventos, além de biogás e de biomassa, sobretudo a partir de casca de arroz.
O sistema de água será duplo, com encanamentos de água potável e não potável - o segundo, usado para descargas e irrigação, por exemplo. Cerca de 80% do lixo será reciclado e até os dejetos serão processados e reutilizados como adubo.
A transformação de Dongtan a tornará o ícone mais representativo do esforço da China para reduzir as emissões de carbono nos próximos anos e, ainda assim, manter taxas de crescimento exuberantes.
A cidade servirá como uma espécie de prova de que o governo chinês está, sim, preocupado com a questão ambiental, uma crescente fonte de pressão de organismos internacionais.
O projeto da primeira cidade ecológica do mundo surgiu como iniciativa do governo de Xangai, dono de 56% da segunda maior construtora do país, a Shangai Industrial Investment Corporation (SIIC).
Em agosto de 2005, os representantes da SIIC contrataram a Arup. O primeiro passo da consultoria foi reunir um grupo de 150 especialistas para o projeto, entre sociólogos, filósofos, economistas e até ornitólogos.
Por enquanto, o investimento para erguer essa cidade-modelo é mantido em segredo. "Neste momento, representantes da SIIC estão montando um fundo para custear as obras", afirma Sally.
Um dos principais desafios dos responsáveis pelo projeto é tornar a cidade economicamente viável e, ao mesmo tempo, reduzir ao máximo a emissão de gás carbônico e preservar o meio ambiente - sobretudo o hábitat dos pássaros migratórios que fazem da região uma parada para sua rota de vôo entre a Austrália e a Sibéria.
A previsão é que Dongtan acolha atividades de baixo impacto ambiental, como empresas de alta tecnologia, universidades e turismo ambiental. Além disso, a maior parte dos alimentos será produzida nas fazendas dos arredores da cidade, com técnicas orgânicas e sustentáveis.
Há outros três projetos semelhantes a Dongtan na China. Todos eles devem sair do papel depois da conclusão da primeira fase da empreitada.
A idéia começa a inspirar também outros países. Em abril, o prefeito de Londres, Ken Livingstone, anunciou que está planejando um bairro com os mesmos princípios de Dongtan.
O projeto está previsto para ser inaugurado em 2010. Apesar do esforço - e do marketing envolvido -, na opinião de especialistas o alcance de uma iniciativa como Dongtan está longe de conseguir reverter a caótica situação ambiental chinesa.
"O problema é enorme e mostra como a sociedade atual pode ser autodestrutiva", diz Saskia Sassen, professora de sociologia urbana da Universidade de Columbia, em Nova York, e especialista em globalização. "O modelo de uma cidade sustentável como Dongtan tem um apelo mais simbólico do que prático.
PARECE FICÇÃO
As principais características do projeto da cidade ecológica chinesa
Vida sem carro
- Todas as casas estarão no máximo a 7 minutos a pé de meios de transporte público, e com fácil acesso a escolas, hospitais e locais de trabalho;
- Os únicos veículos aceitos serão bicicletas ou movidos a combustíveis limpos- como bateria e células de hidrogênio.
Energia limpa
- A energia virá de fontes renováveis, sobretudo da biomassa de casca de arroz e dos ventos;
- Os prédios terão até seis andares, para dispensar elevadores. O uso da energia solar e a circulação de ar permitirão economizar 70% da energia em geral usada para climatização.
Menos lixo
- Cerca de 80% dos resíduos sólidos serão reaproveitados. O lixo orgânico será usado para a produção de energia;
- Um sistema de reaproveitamento da água (usada para descargas e irrigação) vai reduzir o consumo desse recurso à metade.

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